Campus Miracatu fortalece laços e saberes com Quilombo Biguazinho com apoio de projeto de extensão
Iniciativa encoraja autonomia e valorização dos saberes tradicionais da comunidade quilombola
O projeto de extensão "Fortalecendo as Raízes da Cidadania na Comunidade Quilombola do Biguazinho", desenvolvido pelo IFSP Campus Miracatu, tem desenvolvido atividades que efetivamente dialogam com a realidade de uma comunidade tradicional de grande relevância histórica localizada no Vale do Ribeira, mas que vem enfrentando sérios desafios na luta pelo acesso a direitos básicos, políticas públicas efetivas e a evasão dos jovens que buscam oportunidades nos grandes centros urbanos. Localizado às margens do Rio Biguazinho, o quilombo abriga nove famílias que mantêm viva a memória e a ancestralidade de seus antepassados.
A iniciativa, coordenada pela professora Isis Bugia, nasceu de um diálogo genuíno com os moradores, que indicaram demandas e aspirações que apontam para o cooperativismo sustentável e o turismo de base comunitária. "O intuito não é trazer soluções prontas, mas construir com a comunidade estratégias que deem suporte à autogestão, que promovam capacitação, tudo isto contribuindo também para a preservação ambiental", explica a coordenadora.
Formação e transformação
Pela ótica de Andrei Américo, estudante bolsista que integra o projeto, a experiência vai além da formação acadêmica, pois a atuação direta com a comunidade desenvolve competências como escuta ativa, sensibilidade sociocultural e análise crítica, fundamentais para uma educação que, de fato, transforme a realidade dos quilombolas.
Andrei, estudante e bolsista do projeto (à esq.), e moradores da Comunidade Quilombola de Biguazinho (da esq. para dir.): Ledinaldo, Renata, Dolores, Rosa, Eliane, Thaís e Douglas.
Andrei descreve o Biguazinho como “Um lugar rico de natureza e biodiversidade, com pessoas ricas em conhecimento. Mas parece que foram esquecidos e deixados de lado pelas autoridades que deveriam dar apoio e visibilidade à comunidade. Consigo ver muitas potencialidades para a comunidade como um centro para o turismo de base comunitária, há muito o que se ver e conhecer lá.”
Um dos principais desafios enfrentados pela comunidade, segundo Eliane Silva, conhecida por todos como Nena, diz respeito às dificuldades quanto à organização e participação popular - ela identifica, por exemplo, que sua atuação na liderança do coletivo foi uma tarefa extremamente desgastante e por vezes solitária.
Eliane destaca “Na época em que eu era presidente da Associação, eu era presidente, eu era secretária, eu era tesoureira, eu corria atrás das coisas e fazia tudo sozinha”. A sobrecarga, segundo Eliane, contribuiu para afetar a sua saúde mental: “Foi um tempo muito cansativo e isso aí tá afetando minha cabeça, hoje eu não lembro de nada. Eu adoro fazer as coisas, eu adoro escrever, eu adoro ler, só que eu não consigo mais lembrar de nada, se eu não anotar, eu não lembro.”
União de saberes
O coração do projeto está na escuta ativa e no diálogo constante com a comunidade, compreendendo suas reais necessidades, promovendo a troca de saberes entre outras comunidades, incentivando as iniciativas que já estão em andamento e buscando vincular essas demandas às oportunidades concretas identificadas. As atividades são efetivadas por meio de um trabalho minucioso de mapeamento e monitoramento de editais públicos e privados. Utilizando ferramentas tecnológicas e inteligência artificial a equipe do projeto identifica oportunidades de fomento que se alinham aos sonhos e projetos dos moradores do Biguazinho.
Esse processo de "tradução" entre os saberes tradicionais e a linguagem técnica dos editais idealiza democratizar o acesso a recursos públicos historicamente distantes das comunidades quilombolas. O apoio vai desde a organização documental até a elaboração e submissão das propostas, sempre respeitando o protagonismo da comunidade em definir suas prioridades.
Placa de identificação no acesso ao Quilombo Biguazinho (esq. sup.) e registros da beleza cênica e cotidiana na localidade.
Protagonismo compartilhado
O diferencial do projeto está na metodologia participativa, em que os integrantes do projeto, moradores e o estudante bolsista atuam como protagonistas das ideias, esforços e transformações. As ações desenvolvidas incluem desde o apoio à captação de recursos por meio de editais públicos e privados até o fortalecimento de atividades tradicionais como a meliponicultura – criação de abelhas sem ferrão – que representa não apenas uma fonte de renda, mas também fortalece o cooperativismo.
Caixas de criação de abelhas e produção de mel do Quilombo (à esq.) e Meliponicultores artesanais do Quilombo : Douglas, Thaís e Ledinaldo (da esq. para dir.).
Douglas Silva e Thaís Almeida, que também já tiveram oportunidade de estar à frente da Associação de Moradores do Biguazinho, trazem um breve relato sobre a parceria com o Campus Miracatu:
Douglas relata: “Fiz o máximo possível para ajudar a comunidade. Tô sempre correndo atrás de benfeitorias, agora mesmo conseguimos levantar a casinha do mel e estamos trabalhando junto com o Instituto (IFSP) para nos ajudar e estamos aí na luta, não vamos parar. Todos os órgãos que vierem pra ajudar, nós vamos estar sempre juntos e sempre apoiando e lutando aqui. A luta não é fácil, é lenta, mas a gente não pode desistir.”
E Thaís complementa: “Esse projeto do Instituto tá no começo ainda, mas eles escutam bem a gente, participam das reuniões, conversam bem, a gente troca aprendizado, trocamos ideias. Tem sido muito interessante (...). Vocês vindo e conseguindo cursos, ensinando a gente a trabalhar com a parte da documentação… isso vai ser bom pra gente, vai dar uma luz, uma ajuda”.
Compromisso com o território
A atuação do IFSP Campus Miracatu junto ao Quilombo Biguazinho reafirma o compromisso da instituição com o desenvolvimento socioeconômico regional e a valorização das comunidades tradicionais. O projeto exemplifica como a educação pública pode e deve atuar como agente de transformação social, promovendo justiça, equidade e sustentabilidade.
Paisagem natural e preservada junto ao Quilombo Biguazinho.
As ações continuam em desenvolvimento, sempre pautadas pelo diálogo, pelo respeito à ancestralidade e pela construção coletiva de um futuro onde tradição e inovação caminham juntas, fortalecendo as raízes da cidadania e amplificando a voz da comunidade quilombola.
Participam também do projeto os servidores do Campus Miracatu: Carlos Tonhatti, Karine Marcondes, Luiz Felipe Martins e Mario Camargo.
________________________________________________________________________________________________________________________
Para mais informações sobre o projeto e outras iniciativas de extensão do IFSP Campus Miracatu, entre em contato através do e-mail: cex.mrc@ifsp.edu.br
Redes Sociais